Neste sábado, 03 de agosto, Vitória de Santo Antão comemora 368 anos da Batalha do Monte das Tabocas, marco decisivo na luta pela defesa das terras brasileiras e expulsão dos invasores holandeses em 1645. A batalha germinou em nossa gente o sentimento nativista e de pátria, originando-se ali o embrião do Exército Brasileiro.
Tabocas, no dizer de Luís da Câmara Cascudo, “anunciava os longínquos Guararapes no batismo do sangue valente”. Este acontecimento também determinou o nome da cidade da Vitória de Santo Antão, uma alusão ao santo que teria protegido nossos bravos guerreiros na batalha.
A luta contra os holandeses durou ainda, nove anos, terminando com as batalhas do Monte Guararapes ocorridas em abril de 1648 e fevereiro de 1649 (leia a história completa abaixo).
Recentemente, a Assembleia Legislativa concedeu o título de cidadão de Pernambuco (post-mortem), ao mestre de Campo Antonio Dias Cardoso, considerado o Precursor do Exército Brasileiro, vencedor de Tabocas e que ao lado de Barreto de Menezes, Vidal de Negreiros, Fernandes Vieira, Felipe Camarão, Henrique Dias, tiveram papeis consagrados na histórica campanha da Insurreição Pernambucana.
Para o próximo sábado, a Prefeitura da Vitória de Santo Antão, através da Secretaria de Cultura, Turismo e Esporte – SCTE, preparou diversas atividades em comemoração desta importante data. A programação terá, desde corrida e caminhada pelas ruas da cidade, até apresentações culturais no Monte das Tabocas.
Confira abaixo a programação do dia 3 de agosto e a história da Batalha das Tabocas:
PROGRAMAÇÃO
Praça do Anjo – Livramento
08h: 38ª Corrida e Caminhada Monte das Tabocas 3 de Agosto;
09h: Procissão Religiosa.
Monte das Tabocas
11h: Missa Campal;
12h às 17h: Apresentações Culturais.
HISTÓRIA DA BATALHA DAS TABOCAS (03 de agosto de 1645)
Antecedentes da batalha
Seis anos após Diogo de Braga ter fundado nosso povoado, exatamente no dia 15 de fevereiro de 1630, os holandeses atacaram Pernambuco. Vinham em busca do açúcar produzido aqui na Província. Três mil homens, bem armados, desceram na praia de Pau Amarelo e tomaram Olinda, na época capital de Pernambuco.
Os nativos, aqueles nascidos em Pernambuco, juntos com os portugueses ofereceram desde o início forte resistência aos invasores holandeses. Através de um sistema bem estabelecido de guerrilhas e emboscadas, a população local manteve forte cerco aos invasores.
Para governar Pernambuco a Holanda enviou o Conde Maurício de Nassau. O Conde era um homem inteligente e culto. Ele soube manter um clima de paz e prosperidade em Pernambuco.
Em 1644 Nassau foi obrigado a regressar à Holanda. Seus substitutos não tiveram a mesma capacidade administrativa e desagradaram aos luso-brasileiros. Revoltada, por razões religiosas, financeiras e políticas, nossa gente reiniciou e desta feita com mais vigor, o movimento para expulsar os holandeses.
Assumiu a liderança da resistência pernambucana o senhor de engenho, João Fernandes Vieira, então governador de Pernambuco. Após algumas derrotas, os holandeses resolveram prender o líder da resistência.
Para escapar dos inimigos, João Fernandes Vieira, vivia se escondendo no interior e mudava de esconderijo constantemente.
Monte das Tabocas
Em junho de 1645 os holandeses armaram-se e saíram em perseguição a João Fernandes Vieira. Partindo do Recife, eles ingressaram por São Lourenço da Mata, em busca de Vieira, que procurou fugir do inimigo. Mudando sempre de esconderijo, nosso Governador terminou chegando ao Monte das Tabocas, assim chamado, por haver em suas encostas imenso tabocal.
Refugiado no Monte com seus soldados, João Fernandes Vieira, auxiliado pelo sargento-mor Antonio Dias Cardoso, experiente em guerrilhas de emboscadas, traçou um inteligente e perfeito plano de combate para resistir aos holandeses.
A Batalha
Na manhã de três de agosto de 1945 as sentinelas brasileiras anunciaram a aproximação das modernas tropas holandesas, apoiadas pelos índios tapuias. Vieira reuniu seus soldados e a eles se dirigiu em tom resoluto proferindo fortes palavras: “a sorte da nossa causa depende deste primeiro combate”. A causa, era a libertação de Pernambuco.
Uma hora da tarde do dia 3 de agosto de 1645, deu se a grande batalha. Os luso-brasileiros, usando a tática de emboscadas, atacavam e recuavam, fugiam e investiam, atraindo e empurrando os invasores para dentro do tabocal. Resistindo e ludibriando os holandeses, nossos bravos soldados conseguiram atraí-los em direção ao alto do Monte, onde estava escondido o grosso da tropa, comandado por João Fernandes Vieira. Ferozmente caíram sobre o inimigo e após fortes combates, que duraram até ao anoitecer, nossos soldados conseguiram derrotar o inimigo que aproveitou a escuridão da noite e fugiu apavorado, abandonando armas, munições, feridos e mortos.
Narra a tradição, que durante os fortes combates, surgiu uma senhora com uma criança no braço, tendo ao lado um ancião barbudo com um cajado e eles, além de alento, forneciam armas aos nossos bravos soldados. De acordo com a crença popular, eram, Nossa Senhora com o Menino Jesus e Santo Antão. Essa mística narrativa, que só a fé justifica, explica a frase: “Em Tabocas, o céu e a terra se uniram para gerar o Brasil”.
No outro dia ao amanhecer, vendo que o inimigo havia realmente fugido, nossos bravos heróis de joelhos, agradeceram a Deus e à Virgem de Nazaré, e gritaram três vezes em alta voz: ‘Viva a fé de Cristo, e a liberdade. Vitória, vitória, vitória”. E logo o governador João Fernandes Vieira com o chapéu na mão, foi abraçando a todos os capitães e soldados, agradecendo-lhes e louvando-lhes o esforço e a coragem.
Nosso pequeno exército, em formação, constituído de homens descalços, sem armamentos adequados, lutando com amor, de peito aberto, derrotou as bem treinadas e bem armadas tropas holandesas.
A batalha do Monte das Tabocas, foi um marco na campanha da insurreição e sem Tabocas, não haveria Guararapes. Em Tabocas, germinou em nossa gente, o sentimento nativista e de pátria, ali, originou-se o embrião do exército brasileiro. Tabocas, no dizer de Luis da Câmara Cascudo, “anunciava os longínquos Guararapes no batismo do sangue valente”.
A luta contra os holandeses durou ainda, nove anos, terminando com as batalhas do Monte Guararapes, onde foram definitivamente derrotados.
O Monte das Tabocas
O Monte das Tabocas é uma área de aproximadamente 11 hectares, localizada no município de Vitória de Santo Antão, Pernambuco, que em 3 de agosto de 1645 foi palco de célebre batalha entre os luso-brasileiros e os holandeses. Os primeiros, liderados por Antônio Dias Cardoso e João Fernandes Vieira, entrincheirados nas partes altas e protegidos pelos tabocais derrotaram os flamengos.
Cumprindo a promessa feita por Fernandes Vieira, foi inaugurada no dia 3 de agosto de 1945, dia do tricentenário da Batalha das Tabocas, a Capela de Nossa Senhora de Nazaré, construída com pedras do local.
Em 9 de novembro de 1978, foi assinada uma escritura de desapropriação de parte da área que circunda o espigão principal. Na época da batalha a vegetação era composta por imensos bambuzais, sinônimo de tabocais, daí o seu nome. Outra riqueza no local era o pau-brasil.
Em 11 de março de 1986 o governo estadual homologou o tombamento do sítio histórico.
Heróis da libertação
Gen Francisco Barreto de Menezes
Não se sabe ao certo a sua origem. Provavelmente, nasceu no Peru, por volta de 1619, quando seu pai era comandante da Fortaleza do Calão. Tomou parte nas lutas pela restauração do trono português, unido à coroa espanhola desde 1580.
Em 1647, foi nomeado pelo rei de Portugal como mestre de Campo General e investido no cargo de Comandante em Chefe das tropas luso-brasileiras. Chegando ao Brasil para assumir seu posto, foi aprisionado pelos holandeses e levado ao Recife, de onde, após nove meses de cativeiro, conseguiu fugir, em janeiro de 1648. Assumindo então o comando , conduziu as forças luso-brasileiras à vitória nas duas batalhas dos Guararapes. Faleceu em Portugal em 1688.
João Fernandes Vieira
Nasceu na Ilha da Madeira, por volta de 1610, vindo para o Brasil com cerca de 11 anos. Vivendo no Recife ocupado pelos holandeses, conseguiu, em pouco tempo, fazer fortuna, conquistando grande influência na Capitania.
Comandou a batalha do Monte das Tabocas e participou das duas batalhas dos Guararapes. Conhecedor da região e dos hábitos dos flamengos, foi de grande importância no movimento restaurador. Coube a ele a honra de comandar as tropas luso-brasileiras que marcharam sobre o Recife, libertado em 27 de janeiro de 1654. Faleceu em 1681.
Sargento-Mor Antônio Dias Cardoso
Nasceu na Cidade do Porto – Portugal – e, desde 1624, prestou serviços ao Brasil, inicialmente na condição de soldado.
Participou da Insurreição Pernambucana desde o seu início quando, secretamente, passou a atuar na Capitania de Pernambuco, sob as ordens de João Fernandes Vieira, na época, líder civil do movimento.
Sua participação na Batalha do Monte das Tabocas foi decisiva para a derrota dos holandeses. Atuou também das batalhas dos Guararapes.
Antônio Dias Cardoso infiltrou-se até a área de combate, motivando os luso-brasileiros para a luta; instruiu-os como soldados e organizou-os em tropas de pequeno efetivo. Essas, assim preparadas, rapidamente se incorporaram aos que lutavam pela causa brasileira.
André Vidal de Negreiros
Nasceu na Paraíba, no final do século XVI, ingressando no exército, ainda muito jovem.
Promovido a Mestre de Campo foi encarregado de observar a vida da população brasileira sob o domínio holandês e os meios que o inimigo dispunha para a luta. De observador oficial, passou a coordenar a luta contra os holandeses, até a chegada do Mestre de Campo Barreto de Menezes.
Lutou no Rio Grande do Norte e participou das duas batalhas dos Guararapes.
Em 23 de janeiro de 1654, recebeu os primeiros emissários holandeses encarregados de negociar a rendição.
Após a assinatura da rendição de Campina do Taborda, em 1654, coube a ele a honra de ir a Lisboa participar ao Governo Real a notícia da vitória brasileira.”Não conhecemos nenhuma inferioridade em relação a quem em breve venceremos”. “Saiam à campanha, onde faz longo tempo os esperamos”.
“Estejais certos de que nossa máxima é vencê-los ou morrer.”
Henrique dias
Nasceu em Pernambuco, no final do século XVII, e faleceu em 1622. Filho de africanos libertos, juntou-se, em 1633, às forças de Matias de Albuquerque, Governador de Pernambuco, na luta contra os holandeses. Em 1636, passou a lutar utilizando a tática de guerrilhas, pequenos grupos que, queimando canaviais e organizando pequenos ataques, não davam trégua aos holandeses. Em 1637, teve participação decisiva na batalha de Porto Calvo, onde perdeu a mão esquerda. Recebeu a Ordem Militar de Cristo, a patente de cabo e governador dos crioulos, negros e mulatos da guerra de Pernambuco. Participou das duas batalhas dos Guararapes (1648-1649) e da retomada de Recife. Em sua homenagem, a tropa dos negros passou a chamar-se “Henriques”. Posteriormente, foram criados corpos de “Henriques” na Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro, passando a constituírem regimentos. A tradição dos regimentos de caçadores Henriques durou possivelmente até o primeiro Reinado.
Felipe Camarão
Nasceu no Rio Grande do Norte, por volta de 1580, e faleceu no Arraial Novo, perto de Recife, em 1648. Índio potiguara, converteu-se ao catolicismo e foi batizado com o nome de Antônio, ao qual ele acrescentou Felipe, em homenagem ao Rei da Espanha e Camarão que é a tradução de seu nome indígena Poti.
Em 1630 passou a integrar as forças de Matias de Albuquerque, Governador de Pernambuco, centralizadas no Arraial de Bom Jesus, entre Recife e Olinda, contra o domínio holandês. Por seus feitos, foi-lhe concedido o título honorífico de Dom, a Ordem Militar de Cristo, e a função de Governador e Capitão-Mor dos índios da Costa do Brasil. Em 1648, comandou uma ala do Exército na 1ª Batalha dos Guararapes. Adoecendo ao fim da luta, devido a ferimentos da batalha, faleceu quatro meses depois.
Matias de Albuquerque
Nasceu em Olinda, Pernambuco, em 1590, e era irmão do donatário da Capitania de Pernambuco.
Participou da primeira reação contra as tropas holandesas que desembarcaram em Recife, em 1630. Nessa época, chefiou pouco mais de mil luso-brasileiros, que enfrentaram cerca de sete mil holandeses.
Diante da inferioridade numérica e de meios disponíveis, retirou-se com suas tropas para o interior, onde construiu uma fortificação, que ficou conhecida como Arraial do Bom Jesus. Esse local constituiu-se em base de operações para atuação das famosas “Companhias de Emboscada” que, com pequenos efetivos, desfechavam golpes mortais sobre os invasores, causando-lhes graves perdas, o que concorreu para gerar o pânico, que desmotivava os holandeses para a luta.
Fonte: A CARA DE VITÓRIA