sexta-feira, 1 de março de 2013

Na cama com o trabalho


Dispositivos wireless levaram o trabalho a qualquer canto, incluindo sua cama. E isso não significa que sua produtividade aumentou

iPad, tablet da Apple

Quando a jornada acaba, as pendências vão para casa. E com tablets, celulares e laptops, ficou difícil evitar que essas pendências acompanhassem você até a hora de dormir
Dalva Poyares está de agenda cheia. No Instituto do Sono, onde trabalha, a neurologista só tem visto aumentar o número de pacientes com dificuldade para dormir. A razão? O trabalho foi parar na cama. Profissionais aumentaram de forma geral o número de tarefas que precisam fazer por dia. Quando a jornada acaba, as pendências vão para casa. E com tablets, celulares e laptops, ficou difícil evitar que essas pendências acompanhassem você até a hora de dormir.
Segundo um levantamento da Credant Technologies, uma empresa de proteção de dados, um em cada cinco profissionais britânicos trabalha de duas a dez horas por semana na cama. Outra pesquisa, feita pela fabricante de camas reclináveis Reverie, concluiu que 80% dos profissionais jovens de Nova York fazem o mesmo. Essa prática se tornou tão comum que criou um mercado de equipamentos voltados a quem usa a cama não apenas para relaxar.
Há três razões por que o trabalho na horizontal estraga o sono. A primeira são suas preocupações. Para uma boa noite, o ideal é que se fechem todas as questões pendentes do dia cerca de duas horas antes de dormir, segundo especialistas. Depois, você deve escolher apenas aquelas atividades que distraiam sem estimular.
Mas isso ficou mais difícil com a inserção do Brasil na economia mundial. Afinal, o fuso horário de nosso maior parceiro comercial é 11 horas adiantado. Esse é o problema do engenheiro Rodrigo Batalhote. Toda noite, às 22h, ele abre o laptop para negociar com fornecedores chineses via Skype. “Quando volto para casa, tenho a sensação de que não me desliguei do trabalho”, diz. “E, como não posso envolver outros colegas a essas horas, preciso esperar o dia seguinte para não correr o risco de errar em certas decisões. Aí, durmo pensando no trabalho.”
E o dilema do fuso horário não se limita ao trabalho. “Ontem atendi uma paciente que adicionou a família inteira no WhatsApp”, diz a doutora Poyares. “O problema é que ela tem parentes na Itália, que mandam mensagens em horários inapropriados.”
Outro motivo para o mau sono está nas próprias telas dos gadgets. O relógio biológico é influenciado por um hormônio chamado melatonina. É ele o mensageiro que avisa quimicamente ao corpo que a noite chegou. Quanto mais luz a retina receber, menos melatonina será produzida.
Mas bastam duas horas de frente para a tela de um gadget para que a produção de melatonina diminua em 22%, segundo um estudo do Instituto Politécnico Rensselaer, EUA. Não é uma sentença de insônia, mas essa queda pode afetar o sono de quem já tem dificuldade para dormir.
Já a má postura na cama afeta mesmo quem não tem problema para dormir. A regra básica para minimizar o desconforto é manter a postura ereta. Você deve sentar-se com o quadril próximo à cabeceira, apoiar a lombar com um travesseiro e deixar a tela na linha dos olhos, aconselha Cássio Siqueira, fisioterapeuta do Hospital das Clínicas da USP.
De todos os dispositivos móveis, o mais adequado para a postura é o tablet – ele é leve, plano e tem uma tela que pode ser mantida a uma distância confortável. O celular, por outro lado, tem tela muito pequena, o que força o usuário a trazê-lo para perto dos olhos. Com o tempo, isso tensiona o pescoço e o ombro. Já a pior das opções é o laptop. Se estiver sentado com ele no colo, ficará com a coluna curvada. Se estiver deitado de barriga para baixo, jogará o peso do tronco nos ombros. “Isso pode causar dores na cervical e, a longo prazo, hérnia de disco e tendinite nos ombros e na lombar”, diz Siqueira.
Para forçar menos a coluna, você pode usar um suporte para laptop. Uma cama reclinável também ajuda. Outra saída é simplesmente deixar o e-mail para a manhã seguinte.
Matéria publicada na edição de ALFA de janeiro de 2013.

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