quinta-feira, 7 de abril de 2011

ESPECIALISTA EM TRANSPORTE E LOGÍSTICA FALA SOBRE OS PROBLEMAS NO SETOR QUE AFLINGE TODO O PAÍS


Sócio-diretor da Transportes Benatti e da Benatti Armazéns, Flávio Benatti é presidente da Fetcesp (Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de São Paulo) e o Conselho Regional do Sest/Senat (Serviço Social e Nacional de Aprendizagem do Transporte) desde 1996, tendo assumido no ano passado a Presidência da Seção Cargas da CNT (Confederação Nacional do Transporte). Sendo também Presidente da NTC&Logística, ele concedeu uma entrevista à Revista Confenar, que é da Confederação Nacional das Revendas AMBEV e das Empresas de Logística da Distribuição, a qual transcrevemos abaixo:

NTC & Logística, Flávio Benatti, fala sobre os desafios do setor para 2011.

Revista Confenar: Como o ano de 2010 será lembrado pelas empresas de transporte e logística?
Flávio Benatti: Esta pergunta tem duas respostas completamente antagônicas. Do ponto de vista econômico, o ano passado foi ótimo para o nosso setor. Isso porque, como o Brasil praticamente não foi afetado pela crise financeira mundial, os brasileiros se empolgaram e aumentaram o consumo interno, gerando um volume de negócios acima do esperado.
Por outro lado, não tivemos em 2010 avanços significativos em infraestrutura. Nossas estradas, rodovias, portos e aeroportos continuam precários e a falta de planejamento é visível em todo o País. As ações públicas adotadas até o momento são mais “populares” do que eficazes.

RC: Qual sua opinião sobre a proibição de circulação de caminhões em determinados horários e vias?
FB: Restringir o acesso dos caminhões ao período noturno nos grandes centros se mostrou arriscado e caro para todos os envolvidos – motoristas, comerciantes, consumidores.
A população precisa entender que os caminhões não são inimigos da sociedade. Eles são essenciais para o sistema de distribuição, para o abastecimento do comércio e, consequentemente, para a vida prática que temos hoje em dia. A causa do tráfego lento não é a circulação de caminhões e sim a falta de planejamento das autoridades competentes, a falta de investimento do governo em infraestrutura.


RC: Em sua opinião, que setor está sendo mais prejudicado por esta regulamentação?
FB: Acredito que as empresas de distribuição de bebidas estão entre as mais afetadas, pois seus clientes estão principalmente no coração das cidades. São bares, restaurantes, praças de alimentação de shopping centers, enfim, os locais em que é vedada a circulação de caminhões durante o dia.
Sugiro que estas empresas analisem muito bem e constantemente seus gastos, que certamente subiram, para não ter prejuízo.

RC: A NTC & Logística já tem um plano de atuação para cobrar das autoridades competentes melhores condições de circulação nas vias brasileiras?
FB: Realizamos diversos estudos nos últimos anos e percebemos que as atuais políticas públicas de transporte foram desenvolvidas sem a participação das empresas do setor. Exemplos disso são os shopping centers, cujos estacionamentos são planejados para abrigar os carros dos consumidores, mas não os caminhões que abastecem tais centros comerciais.
Lutamos para conscientizar as empresas de logística e transporte, bem como as entidades do segmento. É imprescindível que elas participem ativamente das discussões sobre os planos diretores de suas cidades e sobre o investimento do dinheiro público em infraestrutura. Não podemos mais ficar de fora dessas decisões, sob pena de termos que cumprir leis feitas “de cima para baixo”, que não atendem às necessidades do nosso setor.

RC: O que poderia ser feito para aprimorar o transporte no Brasil?
FB: Além da evidente necessidade de melhoria das estradas, o governo deveria investir também em portos, aeroportos e ferrovias, que são meios de transporte absurdamente subutilizados em nosso País.
Uma opção inteligente seria criar um ambiente favorável para que o setor privado participe desta renovação, investindo e dando ideias. E isso é bastante viável, já que o que mais encarece o transporte de mercadorias é a falta de qualidade de nossas vias.
Além disso, promovemos treinamentos constantes para formar mão de obra especializada, além de reciclar os conhecimentos dos profissionais que já atuam no setor.
Outra luta da nossa entidade é pela inserção na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) de um capítulo específico sobre transporte viário, já que esta legislação é bastante antiga e não prevê diversas questões que hoje em dia são práticas comuns.
RC: A questão fiscal ainda é uma barreira a ser transposta pelo setor?
FB: Com certeza. Os motoristas perdem muito tempo em fiscalizações nas estradas devido às diferenças de alíquota cobradas em cada Estado. Além disso, essas paradas constantes favorecem os assaltos, a prostituição e o tráfico de drogas.
RC: De que forma a parceria com a NTC & Logística pode beneficiar os empresários associados à Confenar?
FB: Realizamos diversas câmaras de discussão coordenadas por especialistas em logística e transporte em cada nicho de mercado, como o de bebidas. Esse conhecimento específico certamente será muito útil para os revendedores.

Fonte: Revista Confenar

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